"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Muito Tempo

Muito tempo
Me sinto assim
Tanto tempo que já nem sei mais
O tempo corre
E eu parada no mesmo lugar
Estática, muda, paralítica
Tem como voltar o tempo?
Voltar atrás?
Não, diz o velho pra menina, voltar é regredir e o tempo urge
"Sempre em frente, não temos tempo a perder"
E o outro diria "continue a nadar, continue a nadar"
Eu nado. Eu nada.
Nada mesmo, nem um traço.
Quem sou eu?
Não sei. Só o tempo dirá.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Meu Top 10 de Aberturas de Séries - #01

E aqui finalmente chegamos à número 1, a escolhida!

#01 - Game of Thrones

A abertura de Game of Thrones, junto com a de Dexter está entre aquelas coisas que eu gostaria de ter pensado por serem nada menos que geniais!

Todo o conceito por trás da escolha da abertura de Game of Thrones é simplesmente genial. Ao utilizar o nome da série "Game of Thrones" ao invés de "A Song of Ice and Fire", título original da série de livros, os produtores da série criaram um caminho muito inteligente para a abertura da série, e ao invés de fazer alguma coisa que teria que batalhar entre gelo e fogo, eles literalmente fizeram um tabuleiro relativo ao termo "Game".

O que vemos portanto na abertura é o crescimento de diversas nações ao longo desse tabuleiro, quase como vemos surgir as nações no livro, é um levante, e todos se encaminham para a guerra. É um conceito incrível esse de "montar" os castelos no tabuleiro.

Além disso, do tabuleiro, e da construção de reinos, também podemos notar que a cada episódio que surge um novo lugar na narrativa eles também fazem questão de adicioná-lo ao tabuleiro, como se um novo jogador entrasse na guerra, e isso mais uma vez, como as outras milhares de vezes que eu comentei, demonstra o cuidado que os produtores da série tem com o espectador e com a história em si. Talvez grande parte desse cuidado resida no fato de que o próprio escritor dos livros também faz parte da equipe da série o que dá à própria série uma certa liberdade do livro e um carinho todo especial por parte da produção.

Além disso, toda a série conta com a espetacular trilha sonora de Ramin Djawadi, que cuidadosamente produziu uma trilha sonora diferente para cada temporada.

#1 - Game of Thrones

Aberturas em ordem de aparição:


E aqui uma versão única com todos os castelos em uma abertura só (é uma montagem amadora, então ignorem os cortes estranhos):



Ah, sem contar também que essa abertura de Game of Thrones influenciou coisas como essa, alguém reconhece de onde foi tirada a ideia daquela igreja "crescer"? (ignorem o fato de que foi filmado direto da televisão e que as pessoas falam bem na hora da igreja, foi o único que eu achei):



Aqui tem um presentinho pros fãs de Game of Thrones muito bom. E se Game of Thrones fosse feito nos anos 90?



E vamos combinar que ficou bem parecido com a abertura de Vampire Diaries que deveria ser mais atualizada já que é de 2009?


Esses rostos com fade realmente são super última década! Só que não.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Meu Top 10 de Aberturas de Séries - #03 e #02

Aqui continuamos então para a terceira e a segunda melhores aberturas!

#03 - Fringe

Fringe é o tipo da série que tem que ver toda, desde o início, se não você não entende nada. Aí você vê, desde o início, e até o final continua sem entender várias coisas. De quem é a ideia da série? Mr. J. J. Abrams. E que outra série Mr. J. J. Abrams fez que deixava a galera louca? Lost. E é uma pena que Lost não tenha abertura, caso contrário, algo me diz que ela estaria aqui também.

Bem, de todas as formas, Fringe está aqui não só porque possui as características de Sherlock, dicas de todos os episódios da série na abertura, mas também porque como é uma série que possui realidades alternativas e "viagem no tempo", ela também possui episódios com aberturas diferentes para esses momentos que davam aos espectadores a ideia já no princípio do que eles teriam que lembrar para assistir aquele episódio, uma vez que existiam várias linhas do tempo distintas.

Então aqui vai uma compilação dos 10 diferentes tipos de aberturas que existiram na série, incluindo uma versão que nunca foi ao ar (primeira versão mostrada no vídeo):



E aqui uma mostra de várias aberturas ao mesmo tempo:


#02 - Dexter

A abertura de Dexter sem dúvida é uma abertura muito bem feita. Utilizando-se da ideia de que Dexter é um serial killer que consegue "conviver" em sociedade, a abertura mostra como seria um café-da-manhã feito por um assassino, e claro, é o motivo de muitos elogios.

A trilha sonora feita por Rolfe Kent também é daquelas que são pra guardar no coração (Dexter's Soundtrack - Morning Routine), e é uma das poucas aberturas que utiliza toda a música de abertura em sua completude.

Essa abertura de Dexter ganhou diversos prêmios, entre eles o Emmy de Melhor Design de Título de Abertura, então acho que não precisa falar muito né?


E aqui uma paródia judia da abertura pra vocês!



Bem, embora não tenha entrado na lista, aqui vai uma menção honrosa, antes de apresentar o grande vencedor:

Menção Honrosa: Breaking Bad

Uma das séries mais comentadas dos últimos tempos não poderia ficar de fora. Breaking Bad nunca foi cogitada para entrar na lista porque não tem nenhum atrativo maior em sua abertura, deixando o foco da série na série mesmo, porém, entra como menção honrosa simplesmente porque acredito que ninguém conseguia ouvir aquela abertura chicana da série e não ficar empolgado.

O tema, composto por Dave Porter, trouxe uma menção honrosa à série nessa lista.

Breaking Bad's - Main Theme

E aqui a abertura da série


Aqui tem uma abertura estendida que eu tenho quase certeza que não é oficial, mas ficou legal do mesmo jeito.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Meu Top 10 de Aberturas de Séries - #05 e #04

Continuando os trabalhos:

#05 - Person of Interest

Essa série, que quase ficou em sexto lugar, conseguiu no último minuto chegar à quinto! Top 5 pra "Person of Interest".

Mais uma série idealizada/produzida pelo grande J.J. Abrams. Eu acredito que essa série só conseguiu alcançar lugares tão ermos quanto o quinto lugar porque tinha as mãozinhas de J.J. Abrams em sua concepção, caso contrário é provável que não estivesse aqui.

Deixa eu explicar direito, a série não está aqui porque eu sou uma fã incondicional de Abrams (decerto gosto do trabalho dele), mas sim porque de todos os idealizadores de séries acredito que atualmente J.J. Abrams é o que mais se preocupa com os fãs. O trabalho que Abrams e seus companheiros de trabalho põe nas séries que produzem é muito grande e isso sem dúvida pode ser percebido até pelo fã mais desleixado.

Person of Interest é uma daquelas séries que é boa. Não é a melhor série que eu vi, e duvido muito que consiga chegar a esse patamar um dia, porém, sua abertura é tão brilhante que mesmo sem ser uma série brilhante, ela consegue se destacar.

Para quem não sabe a série é sobre uma máquina que pode enxergar ações terroristas de acordo com conexões entre pessoas (a máquina tem acesso a emails, chamadas telefônicas, câmeras de segurança, câmeras de celular, laptops e afins, câmeras de tráfico, contas de banco e tudo o mais de eletrônico que você possa imaginar). A máquina interpreta os sinais que recebe dessas inúmeras fontes e cria conexões entre pessoas que nenhum ser humano poderia ser capaz de fazer.

A entrada então tem a visão da máquina como guia, mas isso não é o mais legal, além de mudarem a entrada a cada temporada, há um episódio específico que fez com que a série ficasse em quinto lugar, e este episódio é aquele em que a máquina quebra no meio da abertura. Simplesmente uma sacada genial. Além disso, a premissa da série é narrada nessa abertura, uma inovação que eu não me lembro de ter visto em nenhuma outra série.

Primeira Temporada:


Segunda Temporada:


A máquina quebra na segunda temporada:


Terceira Temporada já com a máquina com defeito:



#04 - Sherlock

Sim, é a minha série favorita do momento. Sim, é uma das minhas três séries mais favoritas de todos os tempos. Sim, eu tenho os Blu-rays.

Colocando todo o fandome de lado. Sherlock é uma série muito bem feita e a abertura não é menos. Contando com o brilhante tema de abertura de David Arnold e Michael Price - Sherlock's Theme a abertura é misteriosa na medida necessária para o tema "Sherlock Holmes".

Outro ponto forte da abertura é que não só vemos locações dos episódios de cada temporada na abertura, como vemos momentos decisivos dos episódios nela. O que tem de tão especial nisso? Você me perguntaria, e eu diria: Tudo! Embora várias dicas dos episódios estejam espalhadas nas aberturas da série (sim, existe uma para cada temporada), só é possível entender sobre o que elas falam quando vemos o episódio, o que é genial, pois, assim que vemos o primeiro episódio já podemos excluir as cenas dele, e o que nos resta na abertura então são cenas dos próximos dois episódios! É uma série sobre investigação, que se você quiser, te faz investigar junto com ela! É uma série interativa!

Além de tudo isso ainda podemos dizer que a utilização do blur nas imagens da cidade à transformam quase em uma miniatura, que também pode significar que a cidade é o objeto de estudo de Sherlock, além é claro das pessoas que nela vivem e de seu movimento cotidiano.

Primeira temporada:


Segunda Temporada:



Terceira Temporada:


E no próximo, o terceiro e segundo lugares e algumas surpresinhas!

Meu Top 10 de Aberturas de Séries - #07 e #06

Aqui continuamos então a lista, agora com o sétimo lugar.

#07 - Once Upon a Time

Não sei se se pode chamar mesmo isso de abertura de série, talvez poderíamos chamar de Cartela de Título, ou algo assim, mas o importante não é a duração da coisa, mas sim o fato de que "Once Upon a Time" ficou na sétima posição.

Por que? Você poderia me perguntar. E eu te digo que é novamente pelo cuidado que o pessoal da série tem com os espectadores. Eu, as vezes bastante lenta, demorei mais de uma temporada para perceber que no início de cada episódio eles colocam na abertura o elemento mais importante do episódio. Aquilo sobre o qual toda a história do episódio vai girar.

E quando eu finalmente percebi esse cuidado (e tenho que admitir, apenas no episódio onde vemos a fumaça mágica tomar conta de toda a floresta), foi de explodir a cabeça. Tive que procurar pelas aberturas no Youtube e tentar adivinhar de que episódio elas eram. E que diversão!

Esse é o tipo de carinho que eu comento aqui. É divertido para o espectador quando ele tem que colocar a cabeça para pensar, nem que seja por um segundo, para encaixar aquela imagem que ele viu na abertura com o resto do episódio, é quase mágico no meu caso, e quando eu finalmente chego a conclusão, é extasiante.

Além desse fator, claro, a imagem da abertura da série é uma imagem muito forte, muito bem selecionada, é a noite que esconde os segredos que jazem sobre as árvores de Storybrook. São as árvores que representam um elemento muito forte na narrativa toda da história (a árvore da qual é feito o armário que levará pinóquio e o bebê para o mundo sem magia, a árvore das maçãs invenenadas de Regina, a árvore em que se transforma o pé de feijão, sem dúvidas a árvore é um dos elementos mais fortes na série) e é muito bem representada na abertura, encoberta em noite, em mistério, como as boas histórias devem ser.



#06 - The Walking Dead

Embora eu discorde da maioria das pessoas e ache a série bem ruim, eu acredito que a abertura da série merece ficar na minha sexta posição. É uma abertura impactante que mostra o mundo depois do apocalipse zumbi.

Mais do que mostrar o apocalipse, a abertura se foca principalmente nos detalhes e no cotidiano do que era antes da praga: um porta retrato quebrado, recortes de jornal, um ursinho de pelúcia no chão, poeira para todos os lados, é realmente uma abertura bonita, e a imagem do final mostrando a tentativa de fuga desesperada das pessoas é realmente fantástica.

Outro ponto legal dessa abertura é novamente o carinho com os fãs e com a série, já não fosse uma abertura sensacional, na terceira temporada eles ainda mudam a abertura adicionando agora cenas da vila e detalhes que caracterizam cada personagem, como por exemplo as flechas de Daryl e o distintivo de Rick, etc. Essa abertura, por isso, merece meu sexto lugar.


Aqui a abertura da Terceira temporada com as mudanças:


E aqui um presentinho para quem conseguiu ler até aqui. Uma comparação muito bem feita das histórias de "The Walking Dead" e "Toy Story" ou "Zombie Story". (e pra mostrar que Toy Story mesmo tendo a mesma história consegue ser muito melhor)



No próximo post, quinta e quarta posições!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Meu Top 10 de Aberturas de Séries - #10 a #08

Eu nunca fiz isso aqui, mas outro dia me deu uma vontade de comentar quais, na minha opinião, são as dez melhores aberturas de séries atuais.

Claro, a lista pode ser qualquer coisa de defasada, uma vez que a maioria dessas entradas são de séries que eu assisto (a única que eu não vi foi True Blood), assim, se alguém tiver alguma sugestão que deveria estar nessa lista ou algum comentário sobre alguma que está nessa lista mas não deveria estar, por favor comente.

Então em décimo lugar:

#10 - True Blood

Sobre essa entrada, na verdade, fiquei muito em dúvida se deveria ou não colocá-la na lista, no fim acabei decidindo colocá-la em décimo.

A entrada é muito bonita, o trabalho de arte, de fotografia e de colorização das imagens são primorosos no que se propõe a fazer que é passar uma sensação de proibido e amaldiçoado, que se completam ainda mais com a utilização da música de Jace Everet - Bad Things. Contudo, mesmo com todo o primor colocado na série ainda tenho minhas dúvidas sobre se a entrada corrobora a série ou não. Já a vi várias vezes e sempre me coloco em dúvida.

Há nas imagens a criação de uma atmosfera muito provinciana que eu não acredito que se traduza na série. Talvez, se a entrada fosse cortada pela metade e se utilizasse apenas a parte final (depois dos 30seg), onde possuem mais cenas sensuais e relacionadas a sangue, a entrada teria mais êxito.

Confiram:



#09 - Community

Community é sem dúvidas a minha série de comédia favorita: é metalinguística, é transmidiática, é atual e é pra todo mundo. Nunca viu community? Sem dúvidas vai existir pelo menos um episódio que você vai gostar, seja ele sobre "Law and Order", seja ele sobre paintball com o nome de "Modern Warfare", ou seja ele ainda um mockumentary sobre uma guerra de travesseiros.

Assim como muitas outras entradas dessa lista, Community está aqui, não necessariamente por ser uma abertura fantástica, mas muito mais por agradar os fãs com suas entradas personalizadas para cada episódio. Há a entrada de Halloween em que os desenhozinhos do início são com o tema de halloween, tem o episódio do "Law and Order" que a entrada é uma montagem da entrada do "Law and Order" com os atores de Community, tem a entrada do dia em que eles jogam videogame que é toda feita em 8 bits, inclusive a música. A música sendo um dos pontos importantes, porque também tem uma pegada diferente a cada episódio, sem nunca deixar de ser a música tema da série.

É simplesmente uma entrada feita para agradar os fãs, e isso, mais do que ser bonita, ou ser profunda, é de fato uma das coisas que me faz gostar ainda mais de Community, porém, é claro,não ser bela ou profunda, a deixou em nono lugar (na verdade, Community, a única série de comédia que figurou entre os 10 melhores simplesmente por respeitar tanto os fãs a ponto de se darem ao trabalho de mudar as entradas a cada episódio, deixando para trás outras que estavam na lista preliminar, como "How I Met Your Mother" e "Suburgatory").

#SixSeasonsAndAMovie



#08 - Elementary

Elementary não é a minha série favorita que adapta os contos de Sir Arthur Conan Doyle, porém, a entrada construida como um dominó do crime sempre me chama a atenção.

O que tem de errado então para que ela esteja em oitavo? Bem, quando comecei a ver a série eu adorei a entrada, tem pegada, a música é legal (aliás, a trilha sonora de todas as adaptações do Sherlock Holmes para tela tem sido geniais), a ideia de fazer uma coisa levando a outra, terminando com a descoberta de uma cena de crime é muito boa.

Porém, como tudo o que é bom dura pouco, eu, iludida a princípio, vi ligações dos momentos da entrada com os episódios do primeira temporada, a bola de gude que encontra o sangue no quarto do pânico, a estátua do Sherlock que a Watson usa para bater no malfeitor espatifada no chão, e por aí vai, até que... Cheguei na segunda temporada e percebi que havia passado a primeira temporada toda me iludindo, tentando encontrar ligações entre os episódios e a abertura, quando na verdade era apenas uma abertura genérica.

Não seria muito trabalho (para quem já tem que fazer 23-24 episódios por ano) fazer uma abertura para cada temporada com elementos dos episódios. E que diversão não seria para os fãs, tentarem descobrir de que episódio vem cada coisa? Pra mim foi o que faltou, por isso, oitava posição para o Sherlock na reabilitação, apaixonado pela Rainha Margaery.



As próximas ficam para o próximo post.




terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Kar - Parte II

(Continuação da criação de um personagem para um mundo de RPG baseado em guerras e batalhas)

Precisava chamar a atenção dos mestres das sombras. Já tinha ouvido antes que havia existido um escravo que tinha sido escolhido pelos mestres, isso não passava de uma lenda, mas ela precisava tentar. Precisava vencer o torneio, mas isso, ela sabia, seria impossível, pois ela não tinha nem como entrar no torneio, afinal, não era qualquer um que o fazia, ainda mais sendo escravo. Mas nada a impediria e ela soube disso no mesmo momento em que seu algoz o descobriu. Havia ouvido naquela semana que tropas aliadas a ele estavam se movimentando em terras proibidas para fazer uma troca de escravos com alguns magos.

Magos! Ela sabia que tinha então uma carta na manga. Qualquer interação com aqueles que se chamavam magos nessa terra era proibida e a grande fera estaria morta antes que pudesse segurar o chicote, caso ela abrisse a boca. Para a sua sorte, seu algoz não era a pessoa mais inteligente do mundo e caiu em sua armadilha perfeitamente. Um dia em que o sol formava sombras especialmente densas ela conseguiu esgueirar-se do lugar onde se encontrava trabalhando até se aproximar da grande fera (o algoz gostava que seus escravos o chamassem assim). A fera se assustou ao ver a menina, mas antes que a ponta de cravos do chicote cravasse em seu dorso ela esgueirou-se para o lado, fazendo com que a ponta passasse a centímetros de seu pé.

- Tenho uma proposta para o senhor. – disse a menina encolhida nas sombras.

- Volte ao seu trabalho humana, ou serei obrigado a matá-la.

- Eu ouvi dizer que é proibido contrabandear escravos para os magos, e acho que os mestres dragões vão ficar muito irritados com a sua falta de lealdade à Mórfilis, grande fera.

A fera olhou com ódio para a menina. Nesse momento ela sabia que havia conseguido sua atenção, era só uma questão de pisar com calma nos próximos momentos.

- Mas isso não precisa acontecer. O senhor pode ser uma fera muito rica. Poderia até, quem sabe, subir de patente. Ser um general um dia. Sei que a grande fera gostaria muito de ouvir seu nome dito dessa forma. General Kerkar.

- General Kerkar... – disse a fera saboreando cada sílaba – Soa muito bem realmente. Mas você não tem como provar que o que diz é verdade, ratazana. Por que eu iria fazer qualquer tipo de acordo com você?

- O senhor está se esquecendo, general Kerkar? – ela sabia que ele gostava da forma como aquilo soava, só lhe faltava mais um empurrãozinho – O fato é de que o senhor sabe como esse tipo de acusação envolvendo magos é investigada, ou não é investigada – fazendo um movimento de cortar a garganta com o dedo – se o senhor me entende. Só precisaria que o rumor se espalhasse. E além disso, o senhor está se esquecendo da parte mais importante: como posso fazê-lo um homem rico. E essa é a parte simples: o senhor só precisa pagar o preço de sangue para que eu possa entrar no Torneio do Armagedon. Se eu perder, o senhor não tem com o que se preocupar, e não perderá muita coisa, afinal, não sou a melhor de suas escravas e o senhor e eu temos consciência disso, e se eu ganhar, bem, se eu ganhar, posso pedir qualquer coisa que o senhor quiser como prêmio.

- E a história?

- Jamais será ouvida por qualquer um.

- Hahaha. Não posso deixar de admitir que será prazeroso vê-la morrer.

Fazia, desde então, cerca de dez anos desde que tivera aquela conversa com Kerkar, e tudo havia saído mais ou menos como planejava. Havia conhecido segredos de pessoas importantes por todo o continente graças ao seu envolvimento com os hassassins, e isso a manteve viva por todos esses anos.

Os passos doíam no amanhecer do quarto dia, mas sabia que não podia desistir. O corpo de Kerkar pesava sobre o seu, mas estivera todo esse tempo à espera desse ritual. Vira sua própria morte muito próxima nesses últimos dias e tinha conseguido esquivá-la. Cruzar com um viajante errante fora, sem dúvida, a salvação do último dia, e nunca esteve tão feliz quanto quando cortou sua garganta e bebeu da fonte de água rubra e ferrosa que a morte lhe oferecera. A água do viajante deveria ser o suficiente até o final da viagem.

Achou por duas vezes que vislumbrava um dos mestres no horizonte, mas atribuiu as visões ao calor nauseante do deserto. Havia ouvido falar das visões de deserto e pode comprovar que eram verdadeiras as histórias, não que isso fosse muito reconfortante. O sol que nunca se movia como era conhecido pela maioria do povo ignorante dos reinos castigava no horizonte atrás de suas costas e ela ficou aliviada quando no dia anterior haviam chegado a uma região costeira, não podia entrar na água, claro, já que essa esbravejava contra as pedras da encosta a uns quinze metros abaixo, mas o encontro com a brisa marinha tinha animado-a.

Não muito depois alcançou a entrada do templo das sombras, o lugar de repouso de seus mestres. Depositou o corpo de Kerkar na entrada, no altar dos sacrifícios, e dirigiu-se descalça à câmara interna, onde deveria encontrar os mestres. E lá estavam, como esperava que estivessem.

- Cinquenta e oito dias e treze horas. É um recorde. Não esperávamos menos de você. – disse um daqueles.

- De fato. Teve momentos em que pensamos que já estava morta, mas as visitas que fizemos nos comprovaram de que ainda lutava contra ela.  – disse outro.

- Venha, criança. Não se pode considerar-se um verdadeiro hassassin antes que se tenha conhecido a morte de perto. E você, criança, fez mais que isso, você usou a morte como forma de continuar viva. Você bebeu a morte e renasceu como uma de nós. O sangue é seu, e todo o sangue de seus inimigos te pertence a partir de agora. Faça com que suas sombras se juntem às sombras de todo o mundo de Mórfilis e que se curvem à um bem maior. O mundo é seu, faça bom uso dele.